No dia 8 de fevereiro 15 de maio, começa a valer a nova política de privacidade do WhatsApp. O pedido de aceite, que os usuários já começaram a ver ao abrir o aplicativo (imagem acima), diz que “após essa data, você deverá aceitar as atualizações para continuar usando o WhatsApp.” O ultimato tem causado rebuliço. O que muda, exatamente? Chegou a hora de abandonar o WhatsApp? Tento responder essas e outras perguntas nesta análise.
A nova política de privacidade tem a ver com um anúncio feito pelo Facebook em outubro de 2020. Naquela ocasião, a empresa revelou novidades para as contas comerciais da plataforma, aquelas usadas empresas, de pequenos comerciantes com o WhatsApp Business às médias e grandes que automatizam o atendimento via APIs. Trata-se de um projeto importante: é a aposta do Facebook para rentabilizar o WhatsApp, que nunca deu lucro desde que foi comprado por quase US$ 20 bilhões em 2014.
As novidades consistem em permitir que empresas terceirizem o armazenamento e o gerenciamento de mensagens trocadas com clientes a provedores externos, que podem ser tanto empresas especializadas nisso quanto o próprio Facebook. Isso ainda não está valendo. Quando estiver, ao iniciar uma conversa com empresa que fizer essa terceirização, algumas garantias do app mudarão. A nova política de privacidade veio para contemplar esse cenário.
Uma das garantias afetadas é a criptografia de ponta a ponta. Ela é e continuará padrão e obrigatória em grupos e conversas com outros indivíduos, mas deixará de existir nas conversas com contas de negócios que tenham contratado um provedor externo — afinal, há um terceiro lendo/armazenando/gerenciando a interação. Além disso, as conversas e dados gerados nessas conversas poderão ser usados pelas empresas contratantes para direcionar anúncios seus em outras plataformas do Facebook, como a rede social homônima e o Instagram. Está tudo neste post do Facebook (em inglês).
“Mas e o compartilhamento com o Facebook?”
As consequências dessa mudança são graves e justificaria o alvoroço, mas a repercussão inicial da nova política de privacidade está focada em outro aspecto: o uso de dados do WhatsApp para direcionar anúncios e personalizar a experiência do usuário em outras propriedades do grupo, ou seja, Facebook, Messenger e Instagram.
A reação de muita gente ante essa possibilidade foi de espanto. E é de se espantar mesmo, dado o volume de dados (veja uma lista não exaustiva) que o Facebook extrai do WhatsApp para afiar os algoritmos de suas outras propriedades. A empresa também faz isso na web, extraindo dados de sites que você visita e que empreguem botões e outros recursos da rede social, e em apps de terceiros, via seu SDK, uma porção de código que facilita a implementação de recursos como login com Facebook em aplicativos.
Para muitos usuários, o trânsito de dados do WhatsApp para o Facebook já acontece desde 2016. Na época, o Facebook descumpriu uma promessa de quando adquirira o WhatsApp, dois anos antes, e avisou que passaria a cruzar os dados do WhatsApp com seus outros serviços. A empresa abriu uma curta janela para que os usuários incomodados sinalizassem que não queriam esse compartilhamento em suas contas. Quem não sinalizou isso (era “opt-out”, ou seja, não fazer nada significava aceitar) ou criou sua conta no WhatsApp após o fim da janela, tem, desde então, seus dados do WhatsApp cruzados com outras propriedades do Facebook.
Na política de privacidade prestes a ser substituída, de 20 de julho de 2020, há uma previsão expressa dessa exceção:
Se você já usa o WhatsApp poderá escolher não compartilhar os dados da sua conta do WhatsApp com o Facebook para melhorar suas experiências com anúncios e produtos no Facebook.
O trecho some na nova redação, que passa a vigorar no próximo dia 8 de fevereiro. Apesar disso, o Facebook garantiu em nota ao site PCMag que honrará o compromisso firmado com os que negaram o compartilhamento em 2016. A política de privacidade é um documento com valor legal; um comunicado a um site, não. Vai de cada um confiar na palavra de uma empresa que, vale lembrar, tem um histórico generoso em trapaças e promessas quebradas.
Na União Europeia, que multou o Facebook em € 110 milhões em 2019 por mentir a órgãos antitruste justamente por mentir sobre a viabilidade técnica desse tipo de compartilhamento na época da aquisição do WhatsApp, os dados do app de mensagens permanecerão isolados. Apesar disso, alguns usuários europeus estão vendo a mesma tela de aceite que os do resto do mundo, o que gerou confusão e levou alguns executivos da empresa a se manifestarem publicamentenuma tentativa de apaziguar os ânimos.
Ficou pior?
A reação de muita gente ante essa possibilidade foi de espanto. E é de se espantar mesmo, dado o volume de dados (veja uma lista não exaustiva) que o Facebook extrai do WhatsApp para afiar os algoritmos de suas outras propriedades. A empresa também faz isso na web, extraindo dados de sites que você visita e que empreguem botões e outros recursos da rede social, e em apps de terceiros, via seu SDK, uma porção de código que facilita a implementação de recursos como login com Facebook em aplicativos.
Para muitos usuários, o trânsito de dados do WhatsApp para o Facebook já acontece desde 2016. Na época, o Facebook descumpriu uma promessa de quando adquirira o WhatsApp, dois anos antes, e avisou que passaria a cruzar os dados do WhatsApp com seus outros serviços. A empresa abriu uma curta janela para que os usuários incomodados sinalizassem que não queriam esse compartilhamento em suas contas. Quem não sinalizou isso (era “opt-out”, ou seja, não fazer nada significava aceitar) ou criou sua conta no WhatsApp após o fim da janela, tem, desde então, seus dados do WhatsApp cruzados com outras propriedades do Facebook.
Na política de privacidade prestes a ser substituída, de 20 de julho de 2020, há uma previsão expressa dessa exceção:
Se você já usa o WhatsApp poderá escolher não compartilhar os dados da sua conta do WhatsApp com o Facebook para melhorar suas experiências com anúncios e produtos no Facebook.
O trecho some na nova redação, que passa a vigorar no próximo dia 8 de fevereiro. Apesar disso, o Facebook garantiu em nota ao site PCMag que honrará o compromisso firmado com os que negaram o compartilhamento em 2016. A política de privacidade é um documento com valor legal; um comunicado a um site, não. Vai de cada um confiar na palavra de uma empresa que, vale lembrar, tem um histórico generoso em trapaças e promessas quebradas.
Na União Europeia, que multou o Facebook em € 110 milhões em 2019 por mentir a órgãos antitruste justamente por mentir sobre a viabilidade técnica desse tipo de compartilhamento na época da aquisição do WhatsApp, os dados do app de mensagens permanecerão isolados. Apesar disso, alguns usuários europeus estão vendo a mesma tela de aceite que os do resto do mundo, o que gerou confusão e levou alguns executivos da empresa a se manifestarem publicamentenuma tentativa de apaziguar os ânimos.
A pior parte, porém, é a do relacionamento com empresas. É uma nova fonte de dados para refinar ainda mais a segmentação de anúncios no Facebook e no Instagram. E, o que talvez seja o efeito mais nocivo à imagem do WhatsApp, abre-se uma exceção oficial à criptografia de ponta a ponta, que até então era padrão e obrigatória. Vale a pena colar aqui o trecho que trata disso na política de privacidade (grifo meu):
Lembre-se de que quando você troca mensagens com uma empresa no WhatsApp, o conteúdo que você compartilha pode ser visualizado por diversas pessoas naquela empresa. Além disso, algumas empresas podem trabalhar com provedores de serviços terceirizados (o que pode incluir o Facebook) para ajudar a gerenciar suas comunicações com seus clientes. Por exemplo, uma empresa pode fornecer acesso às suas comunicações para esses provedores de serviços terceirizados para enviar, armazenar, ler, gerenciar ou processar essas comunicações para a empresa. Para entender como uma empresa trata seus dados, inclusive como ela pode compartilhá-los com terceiros ou com o Facebook, consulte a política de privacidade da empresa em questão ou entre em contato com ela.
Os dois grupos de usuários do WhatsApp preocupados, o dos que só agora se tocaram da tonelada de dados que o app coleta e usa em outras propriedades do Facebook, e o dos receosos com as mudanças trazidas pela nova política de privacidade, estão ambos corretos. É preocupante mesmo, que bom que estamos acordando para isso e tomando atitudes.
A tela de aceite no app do WhatsApp tem sido a melhor propaganda que apps rivais, como Telegram e Signal, poderiam querer. “Já tivemos picos de downloads antes, mas desta vez é diferente,” escreveu Pavel Durov, fundador do Telegram, em seu canal no app. Em 72 horas, o Telegram ganhou 25 milhões de novos usuários, batendo a marca de meio bilhão. O Signal teve que lidar com engasgos em seus sistemas de envio do código de verificação de novas contas devido ao volume muito acima do normal.
Há um tanto de desinformação e equívocos na cobertura das mudanças do WhatsApp, mas em essência o alarde tem razão de ser. Se puder, use o Signal, use o Telegram.